O que é a engorda da praia?

Obras da engorda da praia de Matinhos PR. Fonte: divulgação primeiravoz.com.br

O alargamento da faixa de areia da praia, também conhecido como engorda, é um tipo de intervenção que visa atender demandas ambientais e comerciais. Na questão ambiental, o avanço do mar pode gerar algumas consequências como a erosão de bancos de areia na praia, degradando-os ao longo do tempo. Pro comércio, a engorda amplia o tempo de atividade na praia, valorizando também os imóveis localizados na orla. Além disso, com uma faixa de areia mais larga, os banhistas também conseguem desfrutar da praia mesmo na maré alta. Resolvido o problema? Me acompanha para entender que não é tão simples.

Como funciona a engorda?

O largamento da faixa de areia consiste na construção de um aterro com areia de mesmo tamanho, densidade e granulometria do material original da praia. Na maior parte das vezes, a intervenção é associada a outras obras de proteção costeira, como a construção de espigões marítimos, quebra-mares e molhes. “Estas estruturas complementares desempenham um papel importante, ao aumentar o tempo de retenção dos sedimentos na praia. Isso prolonga o tempo de reposição para manter a faixa de praia”, explica o engenheiro Marco Lyra, especialista em obras de proteção costeira.

Estrutura para espigões da engorda, na praia de Matinhos Paraná
Estrutura da engorda da praia de Matinhos PR. Foto: Ari Dias/AEN

Ele conta que, teoricamente, toda praia com processo erosivo pode se aproveitar do alargamento da faixa de areia. “No entanto, o alto custo deste tipo de obra, as dificuldades de atendimento aos parâmetros de projeto e as incertezas quanto à durabilidade da intervenção, são fatores limitantes”, pondera Lyra.

Engorda da praia: viabilidade técnica e econômica

Todo projeto para proteção costeira deve considerar o custo de implantação, de manutenção, disponibilidade de materiais, impacto ambiental e a durabilidade, para viabilidade do empreendimento.

Para o alargamento da faixa de areia os desafios começam ainda na elaboração de um projeto que considere uma ampla diversidade de parâmetros. “É preciso identificar as zonas de empréstimos submersas ou jazidas de areia. valiar os níveis energéticos existentes no local da intervenção, e verificar as características e o controle do material que será depositado na praia. Juntamente, é necessário utilizar modelos matemáticos que permitam garantir um tempo de retenção mínimo de cinco anos para eventual reposição de areia”, comenta o engenheiro.

Não se pode negligenciar outro componente: o impacto ambiental decorrente da obra. Dessa maneira, é imperativa a realização de um Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) bem fundamentado e que inclua o monitoramento obrigatório da obra antes, durante e depois de sua conclusão.

Praia de Fortaleza Ceará, após segundo aterramento da engorda da praia.
Faixa de praia de Fortaleza já passou por dois aterramentos da engorda. Foto: Izaias Vieira/Seinf

“Mas entre todas as dificuldades em projetos de alargamento de faixa de areia, a mais impactante é o custo de implantação da obra. Para se ter uma ideia, atualmente está sendo feita uma nova engorda na praia de Iracema, em Fortaleza, a um custo de mais de R$ 55 milhões”, informa Lyra.

Etapas importantes para execução

Aqui estão as etapas gerais envolvidas na realização de uma engorda de praia, em ordem de execução:

  1. Avaliação e Planejamento:
    • Realizar uma avaliação da praia para determinar a extensão do alargamento necessário e as áreas prioritárias.
    • Planejar o projeto de engorda de praia, considerando fatores como o tipo de areia a ser usada, a quantidade necessária e as autorizações regulatórias.
  2. Coleta de Areia:
    • Identificar uma fonte adequada de areia de boa qualidade, que pode ser retirada do leito oceânico, de bancos de areia próximos ou de pedreiras terrestres.
    • Preparar as operações de extração de areia de acordo com as regulamentações ambientais.
  3. Transporte da Areia:
    • Transportar a areia coletada para a área de engorda da praia utilizando equipamentos como dragas, barcaças ou caminhões.
  4. Espalhamento da Areia:
    • Espalhar a areia na praia de forma uniforme, usando máquinas especializadas que a distribuem de acordo com o plano de engorda.
  5. Modelagem da Praia:
    • Modelar a nova faixa de areia para criar uma topografia natural que seja esteticamente agradável e funcional para os visitantes da praia.
  6. Controle da Erosão:
    • Implementar medidas de controle da erosão, como a colocação de barreiras naturais (como dunas de areia) ou estruturas de proteção (como quebra-mares) para manter a areia recém-depositada.
  7. Monitoramento e Manutenção:
    • Realizar monitoramento regular da praia e das condições do mar para garantir que a engorda seja eficaz e que a areia não seja rapidamente erodida.
    • Realizar manutenção contínua, se necessário, para restaurar a faixa de areia à medida que ela se desgasta ao longo do tempo.
  8. Avaliação Pós-Projeto:
    • Avaliar o sucesso do projeto de engorda de praia após um período de tempo, comparando as condições antes e depois do projeto e fazendo ajustes, se necessário.

A engorda no mar de Ponta Negra

Enrocamento da praia de Ponta Negra, Natal Rio Grande do Norte.
Enrocamento da Praia de Ponta Negra. Foto: Alex Régis – Tribuna do Norte

Trazendo o foco para nossa praia tão querida, Ponta Negra também está passando por esse processo de engorda da . A esperança é de que o Morro do Careca sofra menos com o processo de erosão natural, além de possibilitar aos banhistas e comerciantes da praia um maior tempo para desfrutar desse espaço. Por fim, no que vai dar?

Por conta do constante avanço das ondas, a Seinfra vai realizar a obra de alargamento da faixa de areia, com até 50 metros na maré cheia e até 100 metros com a maré seca. Só esta parte tem orçamento de R$ 75 milhões. A expectativa da Prefeitura é concluir o enrocamento até o fim do ano de 2023, que já possui 80% das obras realizadas. O enrocamento é necessário para que a Prefeitura dê início às obras da engorda de Ponta Negra. 

Para viabilizar a engorda, um estudo feito pela Tetra Tech,  empresa de São Paulo, descobriu que há uma jazida localizada em Areia Preta, na zona Leste de Natal, há 8 km da costa. Utilizarão exatamente 1,004 milhão de m³ de areia desse local, que possui uma reserva de 6,9 milhões de m³. Máquinas chamadas Dragas trarão esse material para Ponta Negra por meio de tubos na areia, com o auxílio da maré.”

A Erosão do Morro do Careca

Morro do Careca, mostrando processo de erosão
Erosão no Morro do Careca, ocasionada pelo avanço do mar. Foto: Vinícius Marinho/Inter TV Cabugi

O Morro do Careca, na Praia de Ponta Negra, está em risco de diminuir de tamanho com o avanço do mar, fenômeno que está acontecendo em todo o mundo e está retirando areia da duna. Com isso, a base do morro já sofreu uma redução de quase dois metros nas duas últimas décadas. Sendo assim, a engorda da praia deve afastar as ondas do morro e preservar o cartão postal. Segundo o secretário de Infraestrutura de Natal, Carlson Gomes, a engorda começará pelo Morro, uma vez que já há estrutura de enrocamento no local.  

Professores do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) fazem o alerta, conforme publicado pela Tribuna do Norte “A base do morro tem uma pequena falésia que está sendo atacada pelas ondas, num processo de solapamento, quando a falésia não resiste à energia das ondas e o morro desaba junto com a pequena falésia”, explica o Professor de Geografia da UFRN e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Marco Túlio Mendonça Diniz.

O período de maior impacto no morro é de setembro a dezembro devido à velocidade mais forte dos ventos e às ondas mais altas que eles provocam. Portanto, nos próximos meses, a duna deverá continuar recuando. O professor sugere que haja um financiamento em pesquisa específica para aquela área, a fim de saber o tamanho do problema e quanto o morro ainda poderá ceder. Se quiser mais informações sobre o assunto, clique aqui e veja o vídeo produzido pelo projeto desenvolve Natal.

Outras soluções

Há outras soluções técnicas para conter a erosão costeira. Segundo o especialista na área Marco Lyra: “No Nordeste do Brasil, em especial em praias alagoanas, uma alternativa que vem se mostrando eficaz é o uso de contenção com uso de dissipadores de energia bagwall, que consistem na utilização de formas geotêxteis preenchidas com concreto ou argamassa bombeada”. Não existe uma fórmula exata de resolução destes problemas. É necessária a realização de estudos a longo prazo para definir quais possíveis soluções para cada praia em particular.

Dissipador de energia Bagball, na praia de Barra Nova Alagoas
Contenção da erosão marinha na praia da Barra Nova com uso do Dissipador de Energia Bagwall construído desde 2008, sem custo de manutenção. Foto: marcolyra.blogspot.com

De acordo com Tobias Betzel, diretor técnico da Labmar, o planejamento da ocupação é o mais benéfico para as construções e para o ambiente marítimo. A intensa ocupação humana na área litorânea sem estudos preliminares, visando aproveitamento turístico e comercial, acelera ou modifica a tendência de equilíbrio natural desses ambientes. Mesmo quando o problema é solucionado, não há garantias de que regiões litorâneas que já sofreram com a erosão não vão mais se deteriorar. Sempre será necessário um acompanhamento. A melhor alternativa para prevenir danos é o planejamento territorial de ocupação das orlas, bem alinhados a estudos prévios de caracterização da linha de costa.

Morro do Careca, Ponta Negra, Natal RN. Antes da engorda da praia.
Praia de Ponta negra durante a mare baixa, antes da engorda. Fonte: divulgação Ponta Negra News

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